Raio-x das principais commodities agrícolas: o que esperar da soja, do milho e do açúcar nos próximos meses
Mensalmente, converso com consultores do Itaú BBA para entender os fatos mais recentes do setor
| R7 / FABI GENNARINI
Os analistas de Agro do Itaú BBA apresentam um panorama claro sobre o andamento das produções, os principais desafios dos cultivos e as perspectivas para os negócios no campo. É sempre muito enriquecedor conversar com especialistas e entender de forma mais profunda como está o mercado.
Vem comigo descobrir um pouco sobre o cenário do agronegócio brasileiro.
Mundo Agro: O que podemos esperar do clima nos próximos meses? As altas temperaturas prejudicaram o cultivo da soja na região Sul do Brasil, enquanto as chuvas beneficiaram a produção de soja e milho na Argentina.
Francisco Queiroz: O clima afetou a produção de soja do Rio Grande do Sul, com as chuvas irregulares e as temperaturas elevadas. Na Argentina o clima também afetou o desempenho da safra, mas ao contrário do observado no Sul, as chuvas aconteceram em bons volumes sobre área produtoras importantes entre fevereiro e março, o que ajudou a estancar as perdas. Mas ainda assim, a safra argentina será menor que a expectativa inicial.
Nos próximos meses, temos o padrão de redução gradual das chuvas sobre a região central do Brasil. Ao mesmo tempo, devemos observar a mudança no padrão climático de La Niña para neutralidade no Pacífico. O impacto desse padrão no Brasil, geralmente, resulta em corte antecipado das chuvas na faixa central, com as precipitações ficando abaixo da média em abril e maio.
O modelo americano (GFS) aponta para esse padrão de chuvas abaixo da média nos próximos dois meses, o que é um ponto de atenção para o milho segunda safra, dado que o clima dos próximos 60 dias será primordial para a definição do potencial produtivo das lavouras.
Mundo Agro: Por que a China deve importar menos milho?
Francisco Queiroz: A importação de milho da China deve ser a menor dos últimos 5 anos, projetada em 8 milhões de toneladas. Isso porque a produção chinesa esse ano (2024/25) foi maior, resultado de um crescimento da área plantada e do clima positivo, que favoreceu os níveis de produtividade, com uma safra de cerca de 295 milhões de toneladas.
Além da grande produção, o país iniciou a temporada com estoques mais altos, fruto de uma importação de mais de 23 milhões de toneladas no ano ado (2023/24). Portanto, estoque inicial elevado e crescimento da produção devem resultar em menor importação chinesa de milho.
Mundo Agro: Por que os americanos devem reduzir a área plantada com algodão na safra 25/26?
Francisco Queiroz: Os dados preliminares do USDA apontam para uma redução de 500 mil ha (-10,7%) na área americana de algodão para a safra 2025/26. A relação de preços entre algodão e grãos favorece especialmente o milho esse ano. A seca no sul e oeste do Texas também desestimula o plantio de algodão.
Além disso, a tarifa de 15% da China sobre o algodão americano, em resposta às tarifas de Trump, reforça a possível redução de área. O receio do produtor americano em ver quedas adicionais para o algodão pela perda de vendas para o mercado chinês poderá pesar na decisão de plantio.
Mundo Agro: No caso da laranja, as chuvas abaixo da média estão afetando a produção. O que pode acontecer a partir disso? Os preços devem subir?
Wharlhey Nunes: As chuvas abaixo da média e o calor intenso (fevereiro e março/25) podem sim afetar a produção da próxima safra, pois o desenvolvimento vegetativo nos pomares deve ter sido aquém do ideal.
Apesar disso, a expectativa é uma safra brasileira 2025/26 maior que a atual, em função das boas chuvas até janeiro. Essa inclusive é uma das razões para a queda recente dos preços em NY, além de uma possível destruição do consumo em nível global diante dos preços muito elevados que vigoraram até dezembro.
O preço do suco em NY e da laranja no Brasil caíram muito desde dezembro, e mesmo com a próxima safra caminhando para ser melhor, acreditamos que o mundo continuará com a produção restrita, aquém do necessário, o que deveria sustentar os preços, não necessariamente voltando para os patamares recordes que observamos até dezembro.
Mundo Agro: Em relação ao açúcar, por que isso representa um risco?
Lucas Brunetti: O que mais tem chamado atenção no mercado de açúcar são os problemas nas safras da Ásia. Houve algumas revisões para baixo nas estimativas de produção, como na Índia, no Paquistão e até na Tailândia, que inicialmente tinha uma previsão muito boa, mas que agora foi reduzida — acabou piorando na margem.
Isso impactou o mercado, principalmente por causa da Índia, que é o segundo maior produtor e o maior consumidor de açúcar do mundo. A previsão inicial para a safra indiana era alta, como mostramos no nosso relatório, mas ela vem sendo reduzida desde que a colheita começou, em novembro do ano ado.
Inicialmente, o governo chegou a liberar as exportações. Depois, diante da queda nas estimativas de produção, começou-se a discutir a possibilidade de revogar essa liberação — cerca de 1 milhão de toneladas — para garantir o abastecimento do mercado interno. A previsão, que era de quase 32 milhões de toneladas, agora está em torno de 26,8 milhões. É uma queda significativa.
No Brasil, temos dois pontos importantes. No ano ado, a produtividade da cana foi melhor do que o esperado, mesmo com o período seco. Isso deu um impulso positivo. Tivemos chuvas boas no fim do ano, principalmente em novembro e dezembro, o que animou o mercado. Mas, no início deste ano, as chuvas diminuíram — fevereiro e março foram bem abaixo da média — e isso acendeu um sinal de alerta.
Os preços caíram um pouco no início do ano, com a surpresa positiva na safra brasileira, mas com o clima seco recente, os preços se mantêm firmes, na faixa de 18 a 20 centavos por libra-peso. O mercado está de olho na evolução da safra brasileira, especialmente no estado de São Paulo, onde o clima seco pode impactar negativamente.
Mundo Agro: O etanol está em um bom momento. Isso é algo atípico para a entressafra ou é uma situação comum?
Lucas Brunetti: Sim, o mercado do etanol está realmente em um bom momento. No ano ado, por exemplo, tivemos um ano de recuperação. Começamos o ano com vendas baixas e preços também baixos. Mas, ao longo do ano, o consumo foi crescendo, os preços subiram um pouco e terminamos com valores relativamente altos — ainda assim, bem competitivos na bomba.
Agora, com o início da próxima safra em abril, a produção deve aumentar, o que tende a aliviar um pouco os preços. Com isso, os preços provavelmente vão cair um pouco, como é natural nesse período. Mas este é um ano com uma perspectiva muito boa para o etanol.
Durante toda a entressafra, a demanda se manteve forte. Se o preço na bomba cair um pouco, essa demanda pode reagir ainda melhor. Então, temos uma expectativa positiva tanto em relação aos preços quanto à quantidade consumida.
Mesmo com a chegada da safra e uma possível queda nos preços, acreditamos que, na média, os resultados desta safra serão melhores do que os do ano ado. Portanto, sim, o momento é muito bom, mesmo sendo entressafra. O consumo de etanol se manteve alto, e os preços na bomba não caíram tanto. Temos um cenário muito promissor para o consumo de etanol neste ano.
Mundo Agro: Em relação aos fertilizantes, o que explica a alta no preço do potássio?
Lucas Brunetti: Bom, primeiro porque ele estava em níveis bem baixos. O preço vinha caindo há uns dois ou três anos. No ano ado praticamente inteiro, houve quedas sucessivas, e o KCl chegou a um patamar muito atrativo. Isso fez com que muitos consumidores, especialmente os produtores brasileiros, anteciem a compra de fertilizantes, começando justamente pelo potássio.
Por exemplo, um produtor de soja que precisa comprar MAP e KCl para a próxima safra acabou optando por comprar o KCl primeiro, justamente porque estava barato. Isso acabou antecipando a demanda e gerando uma procura um pouco mais forte por esse produto.
Agora, em março, entra um período típico de demanda no hemisfério norte — ou seja, produtores dos Estados Unidos e da Europa começam a se preparar para a safra de verão. Eles plantam em maio, então precisam comprar os fertilizantes com antecedência. Esse movimento aqueceu ainda mais o mercado.
Além disso, houve uma movimentação oportunista por parte dos brasileiros — e, ao que tudo indica, também de compradores na Índia — aproveitando os preços baixos para garantir o KCl antecipadamente. Ou seja, somou-se a demanda sazonal com essa compra antecipada motivada pelo preço atrativo.
E tem ainda um terceiro fator importante: uma tensão geopolítica entre os Estados Unidos e o Canadá. O produtor americano compra cerca de 90% do seu KCl do Canadá, e os dois países estão atravessando uma espécie de guerra comercial. Há ameaças, por exemplo, de o governo dos EUA impor uma tarifa de 25% sobre produtos canadenses, e o Canadá fala em retaliações. Diante disso, o produtor americano correu para garantir seus estoques antes que qualquer tarifa fosse aplicada.
Esses três fatores — a demanda antecipada dos brasileiros, a sazonalidade da demanda do hemisfério norte e o estresse geopolítico — contribuíram para a alta recente no preço do KCl. Não é que ele esteja historicamente alto, mas considerando que estava em um nível muito baixo, essa recuperação de preço foi bem significativa. Tanto que, no nosso relatório, registramos uma variação considerável nos preços dos potássicos ao longo do mês.
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