Fim de voo direto triplica tempo de viagem e afeta negócios entre líderes do PIB
Alta demanda puxada pela expansão da economia desmonta argumento da Azul e abre espaço para concorrentes
| VASCONCELO QUADROS / CAMPO GRANDE NEWS
Em meio ao processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, a Azul Linhas Aéreas anunciou a suspensão dos voos diretos entre os aeroportos de Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT), a partir de 1º de julho. A medida reduz a oferta de conexões entre os dois estados, que já contavam com apenas uma opção de voo direto, prejudicando ainda mais os ageiros dos dois destinos.
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A Azul Linhas Aéreas anunciou o fim dos voos diretos entre Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT) a partir de 1º de julho. A decisão, tomada em meio à recuperação judicial da empresa nos Estados Unidos, surpreendeu ageiros e empresários que dependem da rota, única opção direta entre os dois estados. O trajeto, que atualmente leva cerca de uma hora, ará a exigir conexões, triplicando o tempo de viagem. A suspensão ocorre apesar da alta demanda na rota, que sempre opera com lotação máxima. Especialistas apontam a decisão como um equívoco de gestão, considerando o crescimento econômico de ambos os estados, impulsionado pelo agronegócio. A medida abre espaço para concorrentes como LATAM e Gol, que já estudam a viabilidade da rota. A Azul justifica a mudança como um ajuste de mercado necessário para garantir a sustentabilidade das operações, mas a falta de transparência na decisão gera críticas. ageiros afetados serão assistidos conforme a Resolução 400 da ANAC.
Com o fim da rota, o trajeto, que atualmente dura cerca de uma hora, ará a exigir conexões em outras cidades, como Brasília, São Paulo ou Curitiba, o que deve triplicar o tempo total de viagem. ageiros da região temem o agravamento dos transtornos, especialmente diante da já limitada malha aérea disponível no Centro-Oeste.
A decisão surpreendeu ageiros, sobretudo empresários que dependem dos voos diretos entre os dois estados, historicamente integrados em áreas como agronegócio, transporte e energia. Mesmo com a divisão que criou Mato Grosso do Sul no final dos anos de 1970, os negócios comuns foram mantidos, outros intensificados.
Com a expansão da logística que reforçará Mato Grosso do Sul como polo estratégico impulsionado por grandes obras projetadas ou em andamento, como a Rota Bioceânica, a demanda por transporte rápido aumentará ainda mais, projeção que ou longe das pranchetas da Azul.
A decisão da empresa aérea é inexplicável também pela realidade do mercado da aviação regional: permanente em alta, em qualquer temporada, o único voo entre Campo Grande e Cuiabá sai e volta sempre lotado. Se o acordo extrajudicial obriga ajustes nas operações, a companhia optou por cortar onde aparentemente registra lucros, um equívoco de gestão que não deve ser ignorado pela concorrência.
Além disso, a restrição está sendo anunciada no momento em que os dois Estados, com as economias alavancada especialmente pelo agronegócio, estão entre os que mais crescem no Brasil, como atestam os indicadores. Segundo o boletim Resenha Regional, do Banco do Brasil, a economia de Mato Grosso do Sul deve crescer 4,7% em 2025, enquanto a de Mato Grosso deve subir 5,8%. Já o crescimento do PIB brasileiro deverá ser de 2,13%, segundo a última pesquisa Focus, do Banco Central.
A suspensão da Azul abre espaço para que outras companhias aéreas avaliem a viabilidade da rota. Procurada, a LATAM Airlines Brasil informou ao Campo Grande News que, como faz habitualmente, 'estuda oportunidades de ampliar sua malha aérea', mas não adianta planos, que só deve anunciar num possível rearranjo entre as companhias aéreas. Procurada também, a Gol não respondeu até a publicação da reportagem.
Sem esclarecer, claramente, os motivos da decisão e nem dar detalhes, a Azul simplesmente anunciou laconicamente que, a partir de julho, fará ajustes em sua malha aérea em Campo Grande, suspendendo também os voos diretos da capital sul mato-grossense para Curitiba. Atualmente, o trecho entre Campo Grande e Cuiabá, operado pela Azul, é o único voo direto entre as duas principais capitais do agronegócio brasileiro — rota que já foi atendida por Avianca, Gol e LATAM.
A Azul afirmou que manterá a rota Campo Grande–Viracopos, garantindo conectividade com mais de 70 destinos nacionais e internacionais a partir de seu principal hub. Segundo a companhia, 'as mudanças fazem parte de um processo normal de ajuste de mercado' e foram 'cuidadosamente avaliadas para garantir a sustentabilidade das rotas, mantendo o equilíbrio entre oferta e demanda, sem comprometer a qualidade dos serviços prestados aos clientes.'
A empresa informou que os ageiros prejudicados receberão a devida assistência conforme determina a Resolução 400 da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Em resposta ao Campo Grande News, a Anac disse que não é responsável pela criação ou extinção de rotas e que tal decisão “é tomada no âmbito das empresas aéreas, conforme o princípio da liberdade de voar estabelecido na lei de criação da Agência'. As explicações sobre voos e eventuais mudanças, segundo a agência reguladora, devem ser feitas pelas empresas aéreas que operam no estado ou com a operadora do terminal.
A Anac informou também que o número de voos realizados pela Azul no primeiro quadrimestre de 2025 (de janeiro a abril) totalizou 118 entre os aeroportos de Cuiabá (MT) e Campo Grande (MS), no trecho de ida. No trecho de retorno, foram 119 voos. Somente em abril, último período contabilizado pelo sistema da Agência, foram realizados 39 voos em cada trecho, o que reforça o alto fluxo de ageiros no trecho e torna ainda mais incoerente a decisão de suspensão do único voo direto entre as duas capitais. Até o fechamento desta reportagem o Ministério de Portos e Aeroportos haviam se manifestado.
Após entrar com um processo de recuperação judicial nos Estados Unidos — aproveitando brecha na Lei de Falências norte-americana (Chapter 11 Bankruptcy), em maio do ano ado, a Azul tem realizado uma série de cortes em rotas domésticas e renegociações financeiras. A companhia firmou acordo com credores nacionais e estrangeiros para a extinção de aproximadamente R$ 11 bilhões em obrigações financeiras e recebeu um aporte de R$ 3,1 bilhões.
A Azul já vinha reestruturando dívidas no Brasil desde 2023 e buscou a recuperação para, conforme alega, proteger ativos no exterior e renegociar dívidas internacionais. Se tudo correr como o esperado e sem grandes obstáculos legais, o processo pode ser concluído até o fim de 2025, conforme especialistas da área de aviação.
Empresários que têm negócios comuns nos dois Estados criticam a decisão da companhia, mas apontam também a falta de reação da classe política de Mato Grosso do Sul, especialmente de bancada de deputados e senadores no Congresso.
Um deles disse, sob reservas, que se a mudança tivesse encerrado os voos diretos de Cuiabá ou de Campo Grande para Brasília, provavelmente haveria revolta entre os políticos, forçando governo e órgãos de controle a reagirem.
Quem arca mesmo com custos e transtornos é o cidadão comum e empresários que movimentam a economia, que já sofriam com um voo único, com partida de Campo Grande às 21h, sendo obrigado a permanecer, no mínimo, 32 horas em Cuiabá, só retornando às 05h do dia seguinte, na maioria das vezes para resolver um problema que não exige mais de um a hora.
O voo direto, “de uma perna só', como dizem os pilotos, dura em média 55 minutos. A partir de julho, mesmo que a grade das companhias seja rigorosamente cumprida, o mesmo trajeto não demorará menos do que três horas. Para alguns ageiros, restarão somente alternativas mais demoradas ou dispendiosas, como carro próprio, ônibus, táxi ou até mesmo avião particular — para quem puder pagar.
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