Sem fiscalização, carretas e caminhões pioram trânsito no centro de Campo Grande
Enquanto motoristas de veículos leves tentam dividir o espaço, os “gigantes' do trânsito circulam em horários que deveriam ser s
| MIDIAMAX/LETHYCIA ANJOS
ear por Campo Grande e se deparar com caminhões e carretas de grande porte em pleno centro da cidade tem se tornado uma cena cada vez mais comum. Enquanto ciclistas, motociclistas e motoristas de veículos leves tentam dividir o espaço, os “gigantes' do trânsito circulam em horários que deveriam ser s, segundo a legislação municipal.
Embora um decreto da Prefeitura de Campo Grande estabeleça regras específicas para a circulação de veículos pesados nas vias urbanas, principalmente nos horários comerciais, a realidade nas ruas da Capital é bem diferente do que está previsto no papel.
Carretas-cegonha, que transportam automóveis e podem ultraar 18 toneladas, seguem trafegando em vias centrais durante o dia — o que inclui avenidas de grande fluxo como a Afonso Pena. A prática, quando realizada sem autorização, fere a legislação de trânsito e coloca em risco a segurança nas vias. Além disso, acelera o desgaste do asfalto, já comprometido em diversas regiões da cidade.
Pelas normas em vigor, caminhões pesados só podem circular em horários específicos, geralmente noturnos e nas primeiras horas do dia, a menos que possuam a AET (Autorização Especial de Trânsito).
O documento, emitido pela Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), permite exceções quanto às dimensões máximas previstas pelo CTB (Código de Trânsito Brasileiro) — 2,60 m de largura e 4,40 m de altura —, mas deve ser solicitado com antecedência, com justificativa de urgência e indicação do trajeto.
Regulamentação em atraso?
O PDTMU (Plano Diretor de Transporte e Mobilidade Urbana), aprovado em 2024, previa a regulamentação detalhada sobre o tráfego de veículos pesados — incluindo critérios por peso, tipo de carga, horários permitidos e áreas autorizadas. Entretanto, a regulamentação específica ainda não está publicada. Conforme a Agetran, o decreto que detalhará essas regras está em fase de elaboração, mas segue sem data definida para conclusão.
O plano estabelece como meta a racionalização da distribuição de cargas urbanas, priorizando o abastecimento da cidade em detrimento do transporte individual. No entanto, essa meta está classificada como de médio prazo (até 10 anos), o que, na prática, abre margem para uma morosidade preocupante diante dos problemas enfrentados pela população.
“O município está no cronograma previsto, sem qualquer tipo de atraso', destacou a Agetran.
Fiscalização e sinalização ainda insuficientes
Outro entrave recorrente na circulação de caminhões em Campo Grande é a falta de sinalização adequada. Conforme a Agetran, a instalação de sinalização vertical específica depende da conclusão de estudos técnicos que definirão os pontos exatos onde a circulação de veículos pesados será limitada ou proibida.
“Essa definição será incorporada ao decreto regulamentador, que indicará os pontos que deverão ser devidamente sinalizados', disse em nota.
Enquanto isso, muitos motoristas alegam desconhecimento das restrições, o que resulta em situações de risco. Em 2024, uma carreta de 24 metros atingiu fios de alta tensão no cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Rua 13 de Maio, após o motorista seguir orientações de GPS e adentrar a área central. O incidente causou pane nos semáforos e congestionamento em uma das vias mais movimentadas da Capital.
Apesar do apoio da Guarda Civil Municipal, que escoltou o veículo até fora da área de restrição, o motorista alegou não ter visto placas que indicassem a proibição. Na ocasião, a Agetran informou ainda que o homem responderia pelos danos.
Meses depois, em novembro de 2024, um caminhão-cegonha que transportava caminhonetes Hilux atingiu a fiação elétrica e entortou um poste. O acidente ocorreu no cruzamento da Rua Antônio Teodorowick com a Avenida Mato Grosso. O impacto deixou fios de alta tensão expostos e causou a interrupção no fornecimento de energia para os moradores da região.
O motorista, que preferiu não dar entrevista, limitou-se a dizer que estava sendo guiado por outro funcionário da empresa responsável pela entrega.
Autorização e fiscalização
Apesar das falhas recorrentes na fiscalização, o Código de Trânsito Brasileiro e suas resoluções determinam limites claros: a largura máxima permitida é de 2,60 metros e a altura máxima é de 4,40 metros. Qualquer veículo que ultrae essas dimensões deve portar uma AET.
Em 2025, somente 20 AETs foram emitidas para circulação de caminhões em áreas centrais de Campo Grande, todas elas destinadas a obras pontuais ou serviços considerados urgentes. As autorizações estabelecem limite de horário, trajeto e finalidade específica, sendo o descumprimento ível de autuação, conforme previsto no CTB.
“Os critérios adotados para concessão da AET levam em consideração a urgência da solicitação e a relevância social da atividade', informou a Agetran.
A reportagem também solicitou à Agetran dados atualizados sobre autuações por circulação irregular de caminhões. No entanto, essas informações devem constar somente no relatório anual previsto na Lei Municipal nº 7.282/2024. Isso porque o artigo 10 obriga a prestação de contas da agência ao Legislativo. A apresentação do relatório está prevista para julho.
O que diz a lei hoje?
Em Campo Grande, as restrições à circulação de caminhões na região central estão em vigor desde abril de 2010 e visam organizar o tráfego e garantir mais segurança nas vias urbanas. A resolução proíbe operações de carga e descarga realizadas diretamente na pista de rolamento e determina o uso obrigatório do pisca-alerta durante essas manobras.
O descumprimento dessas normas sujeita os condutores às penalidades previstas no CTB e também ao Código de Polícia istrativa do Município, o que pode resultar em autuações, multas e demais sanções istrativas.
Confira as normas:
- Veículos leves (até 1 tonelada) – livre circulação;
- VUC (Veículo Urbano de Carga) até 5,1 toneladas – das 20h às 10h;
- Veículos de transporte de bebidas até 12 toneladas – das 20h às 9h;
- Veículos leves de carga até 12,5 toneladas – das 20h às 7h;
- Caminhões-caçamba até 16 toneladas – das 20h às 6h30;
- Veículos pesados até 18 toneladas – das 20h às 6h.
Aos sábados, há flexibilização, e a circulação desses veículos é permitida a partir das 14h. Domingos e feriados contam com tráfego livre para todos os tipos de veículos.
O decreto municipal (nº 11.178), que determina normas para organizar o tráfego no Centro da cidade considera como área central os seguintes trechos:
- Av. Presidente Ernesto Geisel entre Av. Fernando Corrêa da Costa e Av. Mato Grosso;
- Av. Mato Grosso entre Av. Presidente Ernesto Geisel e Rua José Antônio;
- Rua José Antônio entre Av. Mato Grosso e Rua 7 de Setembro;
- Rua 7 de Setembro entre Rua José Antônio e Rua Padre João Crippa;
- Rua Pe. João Crippa entre Rua 7 de Setembro e Av. Fernando Corrêa da Costa;
- Av. Fernando Corrêa da Costa entre Rua Pe. João Crippa e Av. Presidente Ernesto Geisel.
O que diz o Legislativo?
Enquanto o decreto regulamentador não é publicado, caminhões continuam cruzando áreas proibidas, desrespeitando os horários estabelecidos e provocando transtornos — como riscos a pedestres e motociclistas, comprometimento de fiações e desgaste precoce do asfalto.
Mesmo com essas regras claras, a ausência de uma regulamentação mais abrangente e de fiscalização eficiente faz com que irregularidades persistam.
Questionada, a Comissão de Transportes da Câmara Municipal, que já realizou audiência pública sobre o tema em junho de 2024, afirmou que aguarda a entrega do relatório da Agetran em julho, para decidir se convoca nova audiência e pressiona o Executivo por respostas mais concretas. Até lá, o trânsito de Campo Grande segue sem regulamentação efetiva.
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